8 de jan. de 2010

Entidades entram com três ações
contra Boris Casoy e Band
O Sindicato dos Trabalhadores de Empresa de Prestação de Serviço de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco) e a Federação Nacional dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação Limpeza Urbana, Ambiental e Áreas Verdes (Fenascom) entraram com três ações contra o jornalista Boris Casoy, sendo uma delas criminal. Em duas ações, a Band também é citada.Contra jornalista e emissora, as entidades ingressaram com ações de reparação civil em nome dos dois garis, Francisco Gabriel e José Domingos de Melo, que após desejarem feliz ano novo ao final de uma reportagem, motivaram a declaração de Boris. A outra ação contra a empresa e o jornalista é de indenização por danos morais em favor de toda a categoria. A terceira ação, essa somente contra o apresentador, é por crime de preconceito. O valor do ressarcimento não foi estipulado pelo advogado, que deixou a decisão ao juiz que analisará o caso.“A Fenascom já entrou com uma ação de indenização em prol dos mais de 350 mil trabalhadores que foram ofendidos. Agora vamos propor a ação criminal e de reparação civil aos dois garis”, explicou Francisco Larocca, advogado que cuida do caso.No dia 31/12, em um vazamento de áudio durante o jornal, Boris disse que os garis apresentados em uma reportagem estavam “no mais baixo na escala de trabalho”. No dia seguinte o apresentador pediu desculpas ao vivo, mas o caso ganhou repercussão nacional.
Sobre a declaração do jornalista, Larocca diz que nunca viu um fato parecido. “De uma pessoa renomada e conhecida no meio jornalístico, é a primeira vez que vejo. Essa classe é bem reconhecida pela sociedade pelo serviço que presta, por isso nunca vimos uma ofensa assim”, declarou.
Fonte: Comunique-se
Revejam o polêmico vídeo:

7 de jan. de 2010


Ricardo Guilherme (E), como Peraldiana, ao lado de Lúcio Leon (coronel Puxavantes)

Ricardo Guilherme, 40 anos de Teatro


Fui na última terça-feira ao espetáculo Brasileiríssimo, de Nelson Rodrigues (no Teatro José de Alencar) que iniciava as comemorações dos 40 anos de vida teatral do do ator Ricardo Guilherme. À época em que eu fazia crítica de Teatro percebia que o forte interpretativo do ator era, essencialmente, a carga dramática com que ele substanciava seus personagens. E, ainda continua com o mesmo vigor cênico. Parabéns, velho amigo (um dos poucos que ainda continua por aqui a encenar, mesmo com todas as dificuldades financeiras inerentes àqueles que teimam em fazer a arte secular).E apresento a vocês caríssimas e caríssimos internautas, a última crítica que fiz, para a minha revista impressa Singular, sobre o desempenho de Ricardo Guilherme, em 2007, na peça O Casamento da Peraldiana, de Carlos Câmara. Ele fez a personagem principal.


FEIRA DE RISOS
O crítico de artes Rubens Ewald Filho costuma lembrar que “morrer é fácil, difícil é fazer comédia”. O axioma cai uma luva para qualificar a temporada da Comédia Cearense, encenando o musical O Casamento da Peraldiana, de Carlos Câmara. E acrescento ao enunciado do crítico: é mais difícil provocar risos/aplausos torrenciais quando o espetáculo é exibido numa sala na qual o palco está inserido no meio da plateia e desprovido de rotunda, de pano de fundo e de outros acessórios cênicos.É o caso da encenação da Peraldiana, no Teatro de Arena Aldeota. O modelo de teatro similar exige, e muito, dos encenadores, pois o público está acomodado em todos os lados, dificultando uma melhor flexibilidade no manejo da cenografia, principalmente objetos de cenários.

Só que a trupe, comandada pelo experiente diretor Haroldo Serra, convive com essas restrições e alcança o fundamento básico: a empatia com a plateia.A peça, uma comédia de costumes cearenses, ambientada em meados do século XX, acontece ao redor de Peraldiana, uma viúva interiorana que vem a Fortaleza, cidade impregnada de estilo social/comportamental avançado para os seus padrões nativos.Na Capital, ela encontra um outro sertanejo, o coronel Puxavantes, que passa a assediar a donzela. A obra de Carlos Câmara tem o foco no conflito rural/urbano, permeando com aspectos arquitetônicos da antiga urbe e acrescentando o humor às nuances da sociedade fortalezense que o tempo levou.No papel principal Ricardo Guilherme, nem de longe, lembra aquele ator umbilicalmente encenador dos personagens trágicos de Nelson Rodrigues. O que, aliás, sempre o fez com competência e devoção. Não. Como Peraldiana, ele revira o baú do seu talento e traz para a luz do palco uma interpretação, no mínimo, primorosa, trazendo para si toda a responsabilidade de comandar a barulhosa feira de risos que é o Casamento da Peraldiana. Detentor de domínio absoluto de palco, Ricardo Guilherme dança, saracoteia, “sua a camisa” (no caso o vestido), imprimindo um ritmo contagiante e sacramentando casamento e cumplicidade, também com a plateia.Até nos gags visuais, o ator se assemelha à picardia de Chaplin, permeando trejeitos burlescos e olhares, às vezes de soslaio, enfaticamente zombeteiros.

6 de jan. de 2010

A palavra


Limpa tuas vestes e, se possível, que todas as peças de roupa sejam brancas, pois isso ajuda a conduzir o coração ao temor de Deus e ao amor de Deus. Se é noite, acende muitas luzes, até que tudo fique claro. Toma então em tuas mãos a pena, tinta e uma mesa e lembra que estás destinado a servir a Deus na alegria do coração. Agora começa a combinar umas poucas ou muitas letras, a permutá-las e combiná-las até que teu coração se aqueça. Então atenta para os movimentos delas e para o que podes extrair delas ou movê-las. E quando sentires que teu coração já está aquecido e quando vires que pelas combinações de letras podes apreender novas coisas que por ti próprio ou pela tradição humana não terias como saber e quando portanto estiveres preparado para receber o influxo do poder divino que flui para o teu interior, então põe todo o teu pensamento mais verdadeiro a imaginar em teu coração o Nome e Seus anjos exaltados como se eles fossem humanos sentados, ou em pé, à tua frente.
Abraham Abulafia1240 – depois de 1290
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Graciliano Ramos
Charge: Néo


5 de jan. de 2010

A arte secreta de

Michelangelo

Estou em férias, aproveitando horas de ócio para navegar, também pela leitura de alguns livros. O primeiro da fila é um trabalho surpreendente sobre a obra de Michelangelo, pois os autores, Gilson Barreto e G. de Oliveira, fazem uma leitura fora das abordagens trilhadas pela história da arte. Eles desvendam trilhas nas vísceras do invisível: a elaboração dos projetos pictóricos de Michelangelo.A Arte Secreta de Michelangelo – Uma Lição de Anatomia na Capela Sistina é leitura física do corpo humano, pois para compor as formas anatômicas de seus personagens, o artista dissecava cadáveres, desenhava e redesenhava as complexidades de peles, tecidos e outros elementos do corpo humano.
Em Pietá, por exemplo, a mão direita da madona, que sustenta com força o corpo inerte, tem dedos abertos, evidenciando as costelas de Cristo.


TRECHO DO LIVRO

A representação de uma Pietá – Cristo já descido da cruz – era comum nos Alpes europeus, mas rara na Itália. A encomenda por um religioso francês, fez Michelangelo exercitar seus conhecimentos anatômicos e sua genial noção de espaço. Ele concebeu uma escultura triangular, com 1,74 m de altura, reduziu a figura de Cristo a fim de acomodá-la no manto da Virgem e aumentou o tamanho desta (se fosse colocada de pé, a madona ficaria com 2,13 m). A “fórmula” de compor a imagem de Jesus dentro dos limites do corpo que o sustenta reforça a ligação entre mãe e filho.




A Pietá foi esculpida em pedra branca de Carrara, sem adição de ouro ou efeitos de cores. Michelangelo sabia que as delicadas nuanças do melhor mármore do mundo bastavam para a recriação tanto do calor de uma anatomia viva quanto da frieza de um corpo inerte. ‘A beleza da alma desce na anatomia de um homem, dando-lhe esplendor e significado’, escreveu Antonio Paoluccio em seu livro Le Pietá.

4 de jan. de 2010


Jararaca –

o cangaceiro que virou “santo”


No cemitério de Mossoró (Rio Grande do Norte) existe um túmulo onde está enterrado o cangaceiro Jararaca (José Leite Santana) do bando de Lampião, e que recebe visitas de peregrinos que vão em busca de milagres. As pessoas mais antigas do lugar contam que a peregrinação decorre da crueldade com que Jararaca foi jogado na cova, ainda vivo. O livro O Cangaceiro que virou santo – 1980) ,do meu amigo Fenelon Almeida (já falecido) conta essa história, no contexto da fracassada invasão de Lampião e seu bando a Mossoró, em 1927.

Lampião sempre cobiçara assaltar Mossoró, cidade desenvolvida, centro comercial em qual os negócios fervilhavam, principalmente devido à exportação de sal e de algodão, considerada à época como o “ouro branco”. O lugar demonstrava sinais de progresso, pois contava com três jornais, estações telegráficas, agências do Banco do Brasil, estrada de ferro e de rodagem. Tudo fascinava os ladrões e Lampião imaginara um assalto que resultasse em grande quantidade de dinheiro. Mas, o bandido tinha também receio e comentava com seus asseclas que Mossoró possuía “ igrejas de duas torres”, típica de cidade grande.Mesmo assim, Lampião resolveu invadir a cidade. Todavia, os cangaceiros foram rechaçados pelo valente prefeito Rodolfo Fernandes que, juntamente com a polícia local e voluntários, armou trincheiras em pontos principais de Mossoró. A edição do dia 13 de maio do jornal

O Mossoroense registrava, três dias depois do confronto: “Lampião, enfurecido, ordenou que o bando atacasse violentamente a cidade. Sofreu, porém, sério revés. Entrincheirados e armados de rifles e de pistolas, grupos da cidade receberam os cangaceiros sob fortes descargas. Travou-se prolongado renhido tiroteio, havendo perdas na horda dos assaltantes. Lampião e seu bando fugiram.” Dois mortos e um ferido, o sanguinário Jararaca.

Na reportagem, Fenelon Almeida relata que Jararaca foi encontrado pelo pequeno comerciante Pedro Tomé. Conta o repórter: “Ao aproximar-se da moita, ainda para certificar-se da natureza dos sons que escutara, Pedro foi encontrar um homem caído por terra, com as vestes ensanguentadas, respirando com dificuldades, sentindo fortes dores no peito direito. Era um homem de cor, compleição forte, ainda jovem. Logo lhe acudiu à mente tratar-se de um cangaceiro de Lampião. Era Jararaca, que na Praça São Vicente se arrastara até ali, numa tentativa de fuga. Mostrando-lhe o bornal que era também a sua caixa-forte, Jararaca prometeu ao desconhecido pagar-lhe generosamente, se ele encontrasse em algum lugar e lhe viesse trazer um pouco de água, sal de cozinha e pimenta-malagueta. E também um canudo de mamoeiro.

Com esses ingredientes, ele pretendia, por suas próprias mãos, limpar os ferimentos por fora e por dentro- e apontava para a perna esquerda e o peito direito, onde as vestes estavam grudadas, no corpo, tintas de sangue, de mistura com areia e outras sujeiras da caminhada e arrasto pelo chão. Pedro Tomé prometeu atender-lhe o pedido. Recebeu o dinheiro de Jararaca e saiu, apressado...O comerciante não cumpriu com a palavra e foi à procura do primeiro soldado que descobrisse no caminho. Entre o instante do encontro do comerciante com o cangaceiro ferido e a vinda dos soldados que o prenderam e o levaram para a cadeia pública – uma distância no tempo que não chegou a medir mais de uma hora- desapareceram o dinheiro, as jóias e outros objetos de ouro, e todos ou quase todos os demais pertences do cangaceiro.

Já na delegacia e atendido por um médico, Jararaca insistia em obter o canudo de mamoeiro e pimenta-malagueta. Perguntaram-lhe como usar essa meizinha, e ele explicou dizendo: “no bando, quando alguém recebe ferimento como este, sopra a malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai a salmora no outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado.”Continua Fenelon: “Jararaca dava sinais de que estava melhorando. Entretanto, sábado, dia 18 de junho de 1927, alta hora da noite, por ordem do capitão Abdon Nunes de Carvalho, comandante da guarnição local, retiraram o cangaceiro da cadeia, dizendo que iam levá-lo para Natal. Mas, ao invés disso, conforme um combinado secreto, transportaram-no diretamente para o cemitério local, onde uma cova estava aberta à sua espera.

Ao ordenarem ao condenado que descesse do veículo e entrasse no cemitério, o motorista Homero Couto ouviu quando Jararaca disse, a meia voz:

-Valha-me Nossa Senhora!

Ao ver a cova que lhe fora preparada, Jararaca tornou a falar:

-Vocês querem me matar. Mas não vou chorar de medo, não. Nem pedir de mãos postas pra não me tirar a vida. Vocês vão ver como é que morre um cangaceiro.

E- fato curioso!- não havia ódio nos gestos e palavras de Jararaca. Havia desprezo, isto sim, muito desprezo; não ódio. Foi o que me garantiu o repórter Lauro da Escóssia, que entrevistou um dos carrascos de Jararaca.

O bandido foi morto de maneira bárbara. Estava com as mãos atadas às costas. Primeiro, foi coronhada na nuca. Em seguida uma estocada com arma branca em plena garganta, desferida com ódio e força descomunais pelo sabre de um dos soldados que o escoltavam. Nas convulsões da morte, caído por terra, o sangue ainda a escorrer do descomunal ferimento, o corpo de Jararaca foi pisoteado pelos seus assassinos que o empurraram com os pés e fê-lo rolar para o interior da cova. Imediatamente, cobriram-no de terra quando ele ainda estava de olhos abertos, nas vascas da agonia final. Não deram tempo nem sequer de morrer.

Foi sepultado ainda com vida.

O túmulo do cangaceiro, que hoje em dia é centro de romaria, foi mandado construir por Neide Santiago, funcionária da Estrada de Ferro de Mossoró, como sinal de gratidão por haver obtido uma graça especial por intercessão da alma do cabra de Lampião.

E está escrito na lápide: “Aqui Jaze José Leite de Santana, vulgo Jararaca. Nasceu em 1901- Faleceu-19-06-1927”.

3 de jan. de 2010

A chuva "transformadora" que caiu no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no começo do mês passado, provocou uma imaginação bem peculiar na cabeça da atriz Carolinie Figueiredo, a Domingas, de Malhação (TV Globo). Fiquei bem atentos para captar a mensagem... e entender o raciocínio dela..


Graciliano Ramos para Presidente

A lengalenga das promessas vãs dos políticos, nesse 2010, vai voltar mais do que nunca aceleradíssima. Tudo por contas das eleições. “Ganharemos” (nas propagandas eleitorias), um outro mundo, delicioso, repleto de bonanças. Tudo engana-bobo. O encantamento de Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero. Na cama que escolherei ...é tostão furado diante do mundo novo anunciado pelos profissionais da política, via marqueteiros.

Sem muito lero, o que quero mesmo dizer é que irei votar para governar o País naquele candidato que tenha o perfil de Graciliano Ramos, à época prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas.

O negócio é o seguinte: quando da sua prestação de contas ao governo do Estado, relativa ao ano de 1928, Mestre Graça deu exemplo de austeridade de homem público comprometido com a gestão fiscal responsável.Ao redigir relatórios da administração, o autor de São Bernardo, Vidas Secas, Memórias do Cárcere...deu exemplo de respeito e de ética no trato com os bens públicos. Vejam parte do relatório (a partir do relatório o seu brio literário começou a florecer):

Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o Comandante do Destacamento, os soldados e outros que desejassem administrar.Cada pedaço do Município tinha a sua administração particular, com Prefeitos Coronéis e Prefeitos Inspetores de Quarteirões. Os fiscais, esses resolviam questões de polícia e advogavam.Para semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós, outros davam três meses para levar um tiro.Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos. Saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles.Não se a administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior .

Entre os funcionários que Graciliano demitiu, um deles era encarregado de matar porcos que parambulavam pelas sujas de Palmeira dos Índios. Após um dia de serviço, o tal funcionário, de espingarda em punho, voltou à Prefeitura assustado. Indagado por Graciliano, se tinha feito o trabalho completo, o servidor disse que não, pois matara quase todos os porcos vadios, menos os animais pertencentes ao pai de Graciliano, seu Sebastião.

Graciliano, em cima das buchas, retrucou:“Prefeito não tem pai”.

E demitiu o funcionário por não cumprir as ordens recebidas.