20 de jun. de 2009



Quase o primeiro crime passional




Deve ter sido em 1979, com uma profissional autônoma que prestava seus generosos serviços na esquina da Senador Pompeu com São Paulo, naquela região em que o canelau sabiamente apelidou de FEIRA DOS PRIQUITOS. Gazeamos a aula de Português do professor Gesuíno (ou seria Genuíno), no Farias Brito da Duque de Caxias e fomos – eu e o Baretta, colega de estágio no Banco e de sala de aula – cair nos braços de um par de quengas.
O programa foi perfeito, à exceção de um pequeno detalhe. Acabei esquecendo a pasta com os livros do colégio em cima do guarda-roupas da casa de cômodos. Voltei correndo e o quarto já estava ocupado. Felizmente, não era a minha iniciadora, o que poupou-me de cometer aquele que seria meu primeiro crime passional.
Novamente de posse do meu material didático, tomei meu rumo, com a alegria de volta, infinitamente superior à ansiedade da ida.
A varanda do sertão

Ricardo Machado, amigo boa praça, conviva e proseador do Bar do Bigode, lá na Cidade 2.000, mesmo morando e trabalhando em Fortaleza (ele é promotor de Justiça), encontrou uma maneira peculiar e lúdica de não esquecer a paisagem, as memórias e o aroma do sertão.
Transformou a varanda do seu apartamento num pequeno memorial sertanejo denominado de Grêmio Lítero-Recreativo Fortaleza-Pedra Branca via Quixeramobim.

Vejam o vídeo produzido e veiculado pela TV O Povo:



Na Singular tem uma seção chamada O Louco da minha rua. As pessoas são convidadas para relatarem suas lembranças sobre aquele personagem maluco que provocava algazarra na moçada, mas, ao mesmo tempo, metia medo na galera. O meu amigo, o jornalista Roberto Maciel, lembrou a figura que passou pela sua vida:
“Maluco, maluco mesmo que se preza tem humores ciclotímicos – mesmo que não saiba lá o diabo que é isso.
Twist era assim.
Parambulava pelas imediações da igreja do Cristo Rei, pertinho do Colégio Militar, alternando-se entre boas gaitadas e umas expressões de zanga.
Quer dizer, perambulava por um trecho obrigatório do percurso que eu costumava fazer entre a minha casa, na rua Rodrigues Júnior e o da minha avó Maria, na Pinto Madeira.
E bastava que algum moleque gritasse “Dança Twist!”, para ele ensaiar uns passos que, lembrando hoje, eram até aprumadinhos. Sacolejava bem, o danado, de calças quadriculadas e óculos estilo Emerson Fittipaldi. É o novo!
E eu, menino “veio”, aproveitava toda oportunidade para implicar com ele – como fazia, afinal, qualquer menino malino daquelas plagas. Era implicar e correr. Porque depois da arenga, o Twist costumava dar uma carreira das boas na mundiça. Era lei. Fazia parte daquele ritual maldosamente infantil. Se não corresse, tinha algo de errado.
Mas estava ali um cara gente boa, diziam os que o conheciam mais de perto. Vai ver, tinham razão: se ele alcançasse algum chateador, nada mais fazia do que passar um pito. Só isso.
Sabe Deus de onde ele tirou aquela mania de dançar. Ou quem a descobriu. Sabe Deus o nome dele. Ou onde morava. Sabe Deus que fim tomou.
Mas veja: era só quando estava junto de outros meninos que dava para abusar do show do Twist. A gente gritava a tal senha, quantas vezes fosse necessário, para ver o doidinho dançar até suar.
E suar em bicas.
Maldade nossa.
Sob o olhar rigoroso da minha mãe, e só se ela não visse o Twist nas proximidades, já que ralhava com a gente, preventivamente o máximo possível era aperreá-lo uma vez. Depois do carão materno –“Não mexe com o rapaz, menino! Deixa o coitado” – e da promessa de que nunca mais faria isso, a gente se aquietava. Até a próxima vez, Twist.
Mas que minha mãe ria, ria. Um sorrisozinho meio disfarçado, tá certo. E piedoso. Mas que não dava pra esconder.
Às vezes, me pego na dúvida: não há mais maluquinhos como o Twist ou olhos adultos, desprovidos daquela santa e angelical traquinagem, não os enxergam mais?
"Eu tinha muito medo de que um cachorrinho preto chegasse à praia e puxasse o meu calção de banho, mostrando minha bunda branca. Quando minha mãe começou a usar Coppertone naquele verão, nossa cor foi mudando aos poucos....”
Sábado de sol, dia
de piquenique


Porque hoje é sábado, e não sei o porquê, neste início de manhã, pintou um pouco de nostalgia, e lembrei-me de uma edição da Singular só sobre coisas do passado.
Entrevistei o jornalista Alberto Villas, autor do livro O mundo acabou.
Ele recorda, por exemplo, dos piqueniques se fazia aos sábados, sábado de sol.
“Acordávamos cedo e olhávamos para o céu. Azul com poucas nuvens, era piquenique na certa. Numa cesta de vime, arrumávamos a matula. Pão americano, mortadela, presunto swift, biscoito Champagne, maças e garrafinhas de Mate-Couro. Uma toalha vermelha xadrex, guardanapos também vermelho xadrex, garfinhos e faquinhas de plástico. Uma radiolinha colorida movida a pilha rodava discos do Mamas & Papas, transformando aquele lugar numa espécie de Califórnia Dreamin.
Todos vestidos de Far-west. Não tínhamos dinheiro para comprar as calças Lee legítimas e íamos de Far-West. Tinha o modelo masculino, com barguilha, e o feminino, que tinha um fecho ecler do lado direito. Éramos felizes dentro daquelas calças Far-West, porque ainda não havia para mim calças Lee.
E a zebrinha do Fantástico tinha o seu charme...








19 de jun. de 2009

O plagiário Ariano Suassuna


O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, já fez sucesso, no teatro, no cinema, e principalmente na televisão com o show de interpretação de todo o elenco da Globo, em especial Matheus Nachtergaele, no papel de João Grilo e Selton Melo, interpretando Chicó. Vocês sabiam que aquela cena em que Chicó é “ressuscitado”, por João Grilo, ao som de uma gaita, após ser “apunhalado”, é plágio de um cordel? A cena é dos golpes que o malandro João Grilo usou para enganar os otários.

Pois é. O original está no cordel O cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros, um dos maiores cordelistas brasileiros, falecido há 91 anos.

A cena faz parte da história de um pobre, em dificuldades financeiras, e que inventou artimanhas para ganhar dinheiro. Uma delas ele combinou com a mulher, para “matá-la” com uma facada no peito. Só que a facada atingia uma seringa, cheia de sangue de galinha. Para logo após “ressuscitá-la”, ao som de uma rebeca. E assim fez, na frente de um otário que comprou a “rebeca milagrosa”.

O comprador levou o instrumento musical para casa e dias depois, após uma briga com a mulher dele, aplicou-lhe quatro punhaladas. O verso do cordel conta a cena:

O velho muito ligeiro
Foi buscar a rebequinha,
Ele tocava e dizia:
Acorde, minha velhinha;
Porém a pobre da velha,
Nunca mais comeu farinha.
17/06/2009 - 13:06

Carta aberta ao presidente Sarney

Caro presidente José Sarney,

Pensei em várias formas de comentar a crise do Senado e o seu discurso-desabafo de terça-feira. Perdoe-me a petulância, mas não encontrei outro jeito melhor de dizer o que penso e sinto sobre tudo isso do que escrevendo-lhe esta carta aberta.

Sei que ainda sou muito jovem para dar conselhos a um ex-presidente da República próximo de completar 80 anos, o que não me impede de usar este espaço público para apresentar-lhe uma sugestão diante do impasse vivido pelo Senado.

Escrevo-lhe porque lhe quero bem, testemunha que sou da maneira lhana como sempre tratou os jornalistas. Posso imaginar o drama pessoal que está vivendo, no olho do furacão político, bem no momento em que a sua filha enfrenta os desafios de mais uma delicada cirurgia.

Chegamos, porém, a um ponto da degradação das práticas parlamentares em que já não bastam discursos, remendos, providências de emergência, costurar acordos de cúpula, demitir meia dúzia de funcionários ou chamar a Fundação Getúlio Vargas para corrigir as distorções mais evidentes.

Concordo que a crise não é somente sua, presidente Sarney, mas do Senado, como o senhor disse na parte central do seu discurso, embora este já seja seu terceiro mandato à frente da Casa, sempre com plenos poderes.

Exatamente por isso, ao contrário do que pensam alguns colegas meus, não acho que a sua simples renúncia neste momento seja capaz de dar um fim à crise e restabelecer a credibilidade do Senado junto à opinião pública.

Fomos tão longe nesta triste sequência de denúncias sobre desmandos e privilégios inadmissíveis, que agora já não se trata de encontrar um ou meia dúzia de culpados. O problema é o conjunto da obra e o tamanho do estrago na imagem da instituição.

Diante disso, presidente Sarney, proponho a renúncia coletiva da mesa do Senado e a convocação de novas eleições no menor prazo possível.

Esta nova eleição deveria ser baseada numa carta de princípios em que todos os candidatos a membros da Mesa, começando pela presidência, se comprometam a restaurar princípios básicos de moralidade no uso dos recursos públicos.

Depois de 60 anos de vida pública em que o senhor ocupou todos os cargos possíveis na República, creio que este gesto não seria entendido como fuga à responsabilidade nem como fraqueza diante da gravidade da crise.

Ao contrário, será talvez o gesto de grandeza mais nobre da sua carreira que se confunde com a redemocratização do país.

De nada adianta agora discutir ou rebater cada uma das denúncias feitas a senadores e funcionários da Casa, como deixou bem claro seu melancólico discurso da tribuna em que chegou a afirmar: “É injustiça do país julgar um homem como eu, com tantos anos de vida pública”.
Injustos podem ser os homens, não o país, que tem todo o direito de julgar qualquer um de nós, independentemente da antiguidade ou do posto que ocupamos no momento.

Ao lhe prestar solidariedade esta manhã, ainda em meio à sua viagem ao exterior, o presidente Lula também foi infeliz ao dizer que o senhor “tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum”.

De acordo com o que diz o nunca demais lembrado Artigo 5º da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (…)”. Somos todos, portanto, pessoas comuns.

Por isso, a melhor resposta que o senhor poderia dar neste momento a todos os que o acusam é justamente abrir mão do poder, junto com seus pares do comando do Senado, abrindo caminho para que a instituição possa encontrar um novo começo.

Em respeito à sua própria biografia, caro presidente Sarney, penso que quanto mais durar esta agonia do Senado, que o atinge tanto no campo pessoal como no político, pior será para o senhor e para a instituição que representa.

Com estima e respeito,


Ricardo Kotscho

Edmilson Caminha
A sombra do meio-dia dos deputados


O homem que está por trás dos óculos, na foto acima, é uma das pessoas mais bem-informadas do Congresso Nacional. Não exerce a profissão de jornalista (embora seja), não é parlamentar, e muito menos lobista. E, caso possuísse poderes paranormais, certamente não seria o seu fraco bisbilhotar a vida alheia.
Ele sabe primeiro, antes de todo mundo, até do próprio orador, sobre o conteúdo da peça oratória a ser exposta na tribuna. Simplesmente, porque é o autor intelectual do conjunto de palavras lidas pelo deputado.
Esta Singular entrevistou o cearense Edmilson Caminha, 57 anos, consultor legislativo da Câmara dos Deputados. Há 18 anos, ele, particularmente, não é pró nem contra, nem muito pelo contrário. Apenas redigi, no anonimato, os mais sortidos e polêmicos temas.
Como, por que e quando você, escritor, jornalista, chegou ao cargo de consultor legislativo? Como você define a função do ghost-writer?
Em 1990, submeti-me a concurso público de provas e títulos para consultor legislativo da Câmara dos Deputados, em Brasília. Aprovado, tomei posse em 1991, e desde então escrevo discursos para os parlamentares que os solicitam, independentemente da definição ideológica ou da filiação partidária de quem os pronuncie em plenário. Sou, portanto, um ghost-writer, como o foi, por exemplo, o romancista Autran Dourado, um dos escreviam os discursos do Presidente Juscelino Kubitschek. Quando lhe elogiavam algum texto lido por JK, Autran contestava: “Eu sou apenas a mão que escreve”. Há um bom romance do diplomata brasileiro Sérgio Danese sobre uma personagem que escreve os pronunciamentos de um senador: chama-se A sombra do meio-dia, conceito que também muito me agrada. Somos apenas a mão que escreve, e não passamos de sombras do meio-dia, que simplesmente não existem, já que o sol está no zênite... Fico com essas duas definições, para o trabalho que realizo há 18 anos.
Dentre os 513 deputados federais quantos solicitam discursos à consultoria Legislativa? Qual a média de discursos que você prepara por ano? Que tipo de metodologia preparatória você utiliza quando vai escrever um discurso?
Diria que em torno de dois terços dos deputados nos solicitam discursos, além do Presidente da Casa e dos líderes dos partidos, que fazem uso da palavra nas sessões solenes. Escrevo, em média, cem discursos por ano. Procedo, inicialmente, a uma pesquisa sobre o tema, de acordo com a orientação do parlamentar e os objetivos a que se propõe. Importante, também, conhecer a ideologia e a situação partidária do solicitante, além da formação profissional e do nível de instrução do destinatário. Para não citar pessoas vivas, e muito menos aquelas no exercício de mandatos, suponhamos que, hoje, ocupassem cadeiras na Câmara os senhores Guimarães Rosa e Manuel Francisco dos Santos, o mundialmente famoso Garrincha; um, escritor célebre que conhecia onze idiomas; outro, um gênio do futebol que apenas aprendera a ler e a escrever. Claro que um discurso para Rosa poderia primar pelas idéias e pela forma, com citações até em grego, enquanto o texto para Garrincha teria de caracterizar-se pelo conteúdo simples e pela singeleza da linguagem.
Quais os momentos mais tensos e hilariantes que você passou até hoje na Consultoria? O anonimato não lhe incomoda, por exemplo, ao ver um parlamentar fazendo um discurso eloquente, escrito por você, e ser aplaudido?
Não diria hilariante, mas uma solicitação pitoresca foi a de certo deputado que, envolvido com o “mensalão”, pediu-me dois discursos: um para renunciar e o outro para continuar no exercício do mandato, já que não decidira o que fazer. Para poupar tempo e esforço, escrevi apenas um texto, com certo parágrafo que só deveria ser lido em caso de renúncia. Creio que foi o único discurso do tipo “2 em 1” na história da Câmara... O momento tenso devo à revista Piauí, que me entrevistou para uma matéria que saiu na edição de novembro do ano passado. À pergunta do repórter Bruno Moreschi, sobre como escrever discursos para deputados intelectualmente tão díspares, lancei mão, como sempre faço, dos exemplos de Guimarães Rosa e Garrincha. Qual não foi minha surpresa e indignação ao ler, nas páginas da revista, uma referência nominal ao deputado, hoje falecido, Clodovil Hernandes, como representação de um deputado inepto e medíocre. Espanto maior foi saber, pelo próprio Moreschi, que a referência não fora dele, mas do editor da revista, que lhe alterara o texto!!! A conclusão a que cheguei foi que, se a revista Piauí se presta a esse tipo de fraude, imagine o que não é capaz de fazer a chamada “imprensa marrom”... Tenho em mão todas as provas do que acabo de dizer, para quem se interesse em consultá-las. A sordidez da Piauí poderia ter-me causado problemas sérios, como servidor da Câmara que deve respeito funcional a todos os deputados. Por incrível que pareça, o Deputado Clodovil não me processou administrativamente, decerto por a matéria não lhe ter chegado ao conhecimento. Donde se conclui que a revista Piauí não é lida nem por aqueles a quem difama. Quanto ao anonimato, digo sinceramente que não me incomoda: eu apenas ponho no papel o que o deputado quer dizer. A propriedade intelectual é dele, assim como a responsabilidade legal pelo que disser.

Qual a fórmula ideal para a feitura de um discurso?
Creio que um bom discurso deve ter substância, objetividade, clareza e precisão, além, como já disse, de se adequar ao grau de instrução e aos conhecimentos do deputado que o pronuncie.
A entrevista que você fez, em 1984, com Carlos Drummond de Andrade, é considerada antológica, pois o poeta era tímido e muito reservado. Como você conseguiu? E a partir daí como foi a convivência de vocês? Que lembranças você guarda de Drummond?
Homem discreto e muito cioso da sua intimidade, não era fácil, realmente, entrevistar Drummond. Como bom cearense, tanto insisti que ele acabou cedendo, acho que para se ver livre de um chato... Para tanto, desconfio de que também concorreu um saborosíssimo doce de caju, feito em Aracati por minha tia Zuleica, com que lhe presenteei por muitos anos no dia 31 de outubro, quando o poeta fazia aniversário... Aceito no pequenino mundo de Drummond, descobri que se tratava de um homem educado, atencioso, amável e divertido. A imagem de bicho do mato, de urso-polar era, dissimuladamente, cultivada por ele próprio, como um mecanismo de defesa, para livrar-se dos importunos. Fosse receber todos que o procuravam, Drummond não teria tido tempo de escrever a admirável obra que nos legou. Por muitos anos, trocamos cartas – eu em Fortaleza, ele no Rio –, onde minha mulher e eu o visitávamos sempre. Em um desses encontros, Ana Maria grávida de nossa segunda filha, o poeta pediu que lhe comunicássemos o nascimento da herdeira. Foi o que fizemos quando veio Ana Carolina, que ganhou de Drummond um belíssimo poema, escrito de próprio punho. Essa, a lembrança que dele guardo: um homem simples e bom, que pela grandeza humana e pelo raro talento que lhe eram próprios fez o mundo melhor e a vida mais bela.

Como você administra a sensibilidade autoral, escrevendo para os outros e tendo de produzir seus livros? E por falar em produção literária, qual será sua próxima publicação?

É tudo uma questão de disciplina, de método e de organização. Além dos discursos que elaboro, por dever de ofício, e dos livretos que publico, leio, em média, 70 bons livros por ano, o que não é pouco. O próximo lançamento deverá ser Falou e disse, uma coletânea das pérolas que encontrei nos milhares de livros que li, neste últimos 30 anos. Será destinado a estudantes, professores, jornalistas e ghost-writers que queiram enriquecer o texto com citações luminosas e inteligentes. A propósito, e para encerrar esta nossa conversa prazerosa, faço minhas as palavras do grande Jorge Luis Borges: “Outros que se envaideçam dos livros que escrevem: eu me orgulho dos livros que leio.”



17 de jun. de 2009



Saudade do Ivo Holanda

D
omingo à noite, eu ficava esperando pela última atração do Topa tudo por dinheiro, no SBT, especialmente no quadro Câmera Escondida. E quando a pegadinha era com o homem que gosta de apanhar não tinha tristeza que suportasse as minhas gargalhadas.
Que saudade do Ivo Holanda!
Ele fazia aquele personagem bem sem-vergonha, traquino, enrolão, cínico, brincalhão, malandro...
Típico macunaímico.

Frei Betto e o celibato
Admiro, há tempos, o escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto. Possuidor de discurso ponderado, porém firme e altivo. Amigo dos mais próximos do presidente Lula, Frei Betto até se dispôs a ajudar o ex-metalúrgico, no início do seu primeiro governo, como assessor especial da Presidência da República.
Colaborou a costurar o projeto Fome Zero (lembram-se do trololó publicitário ufanista, logo após a posse de Lula, anunciando que a fome seria extinta dos lares da grande maioria dos brasileiros?). O Fome Zero não matou fome de ninguém, sequer saiu do papel e, um ano depois, veio o Bolsa-Família.
Frei Betto pulou fora do barco, dizendo que o governo “trocou um projeto de nação por um projeto de poder”.
Agora, Frei Betto encara um debate delicado, no âmbito da Igreja Católica: a duplicidade de atitudes que o celibato favorece- desde a prática hedionda da pedofilia, o relacionamento homossexual, passando pela discreta paternidade de padres e bispos.
Amigo do presidente do Paraguai, Frei Betto opinou recentemente (revista Poder) sobre os alardeados casos de paternidade do bispo Fernando Lugo, indo à entranha da questão: o celibato.
Segundo ele o celibato sacerdotal não resulta de uma exigência de Jesus, “tanto que os evangelhos registram ter ele curado a sogra de Pedro (Marcos 1,30-31). Se tinha sogra, Pedro, escolhido como primeiro papa, também tinha mulher.
O celibato, como exigência para se tornar padre, foi oficializado na Igreja Católica a partir do século 13. Embora, nas últimas décadas, a igreja tenha sido duramente afetada por denúncias de pedofilia, e perdido muitas vocações sacerdotais por não admitir padres casados, o Vaticano persiste em recusar a debater o tema. Muito difícil ainda é admitir que as mulheres possam exercer funções sacerdotais...”
E continua Frei Betto, dizendo que o caso de Lugo não é raridade.
“Há, no Brasil, padres com filhos e, por não terem contraído matrimônio com as mães, permanecem em suas funções sacerdotais com anuência de seus bispos”.
Finalizando, Frei Betto completa: “Tomara que os filhos de Lugo ajudem a Igreja Católica a separar vocação ao celibato de vocação ao sacerdócio e ser, com os seus, menos madrasta de histórias em quadrinhos e mais mãe, que jamais abandona ou nega afeto a quem gerou”.
É isso aí.

16 de jun. de 2009


Fora do tom

S
aiu a Playboy deste mês. Na capa (Francine- a fofura do BBB-9)

Como sempre, as fotos de uma gostosona do momento ou uma donzela recauchutada: afinal o PhotoShop está aí pra isso, melhorando qualquer corpo.


Não quero falar das curvas femininas estampadas.

Sempre tem uma entrevista com uma personalidade, e nesta edição o nosso conterrâneo Tom Cavalcante está lá, falando de sua vida, de suas glórias, e principalmente dos seus amigos importantes (presidente Lula, senador Tasso Jereissati, governador Aécio Neves, senador José Sarney, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Chico Anísio, Faustão....).

Só que ele pisou na bola quando relembrou os momentos das vacas magras, no início da carreira, pois tentava, tentava e não conseguia uma chance para aparecer no cenário nacional, via o programa do Chico Anísio, na Globo.

Na entrevista à Playboy, ele relata que a primeira chance que teve, foi para ser redator do referido programa. E confessa: “aí corri para um amigo jornalista (?) que começou a escrever os textos pra mim...”

Quem é esse amigo jornalista, importante, que de certa forma foi responsável pelo surgimento do artista num momento tão difícil da carreira?

Não custava nada nominar tal parceiro. E agradecer a ajuda.

Algo, fora do tom.


COMO AS FARSAS NA NET

SÃO DESMASCARADAS

Vocês, navegando pela rede, já foram enganados?
Já receberam e-mails, pedindo doações para pessoas doentes, convidando para entrar em correntes, nome constando no SPC ou mesmo recebendo histórias (com fotos ou vídeos) sensacionalistas ou horripilantes?

Nesse universo imenso que é a blogosfera (hoje existem 133 milhões de blogs no mundo) localizamos um brasileiro que se especializou em desmascarar as tramóias que emporcalham as caixas de e-mails e enganam muitos incautos.

A fera é o paulista Gilmar Henrique que no seu blog E-farsas (www.e-farsas.com) vem desvendando muitas armações.

Fizemos uma entrevista com ele:

Com que idade, você entrou para o mundo virtual?

O computador sempre esteve presente na minha vida! Quando eu recebi o meu primeiro salário, aos 12 anos, minha mãe abriu um crediário para eu poder comprar um MSX (computador pessoal que não vinha com monitor, pois era ligado na TV comum). Todavia, o maior acontecimento mesmo foi a chegada da internet no Brasil. Lembro que passava dias e noites conectado para ver se conseguia entrar em todos os sites que existia. Hehehehe!

Quando você começou a perceber que o uso da internet também estava sendo aplicado para enganar pessoas? Qual foi a primeira armadilha na qual você caiu?

Acho que foi em 1999, recebi um e-mail pedindo que eu enviasse 10 cartas para 10 endereços diferentes e colocasse R$ 1,00 (ou um cruzeiro, sei lá, qual o dinheiro da época) em cada envelope, tomando o cuidado de colocar o meu nome também na lista. Assim, segundo o e-mail, as próximas pessoas que reenviassem as cartas colocariam R$ 1,00 em cada envelope e eu passaria a receber todo esse dinheiro. Era a chamada pirâmide. Eu já conhecia esse esquema de pirâmides na “vida real”, porém, achei que por ser uma coisa vinda da internet, seria muito mais garantido. Me lasquei! Pois até hoje, não recebi nenhum realzinho de volta. Um lembrete: quem recebeu uma carta minha, há uns 9 anos, favor devolver-me.

Qual foi a primeira farsa que você descobriu? Como surgiu o blog?

Certa vez, recebi um e-mail apresentando foto de uma garotinha e texto dizendo que ela estava com câncer e que pra cada e-mail repassado, ela ganharia 10 centavos, como ajuda para o seu tratamento. Resolvi pesquisar essa história e descobri que era tudo mentira. Só que não tem como saber para quantas pessoas já foram repassados esses e-mails. Você pode até encaminhar o e-mail, entretanto, tem gente que envia e-mail com cópia oculta, aí não tem como saber mesmo. A partir dessa pesquisa, os meus amigos virtuais começaram a mandar outras histórias para que eu pesquisasse. Então, para eu não ter o imenso trabalho de mandar e-mails pra todo mundo, resolvi centralizar todas as pesquisas em um só lugar. Daí, no dia 1º de abril (Dia da mentira) de 2002, surgiu o E-farsas.com.

Que tipo de investigação você utiliza para descobrir fraudes e crimes?

A intenção do E-farsas.com é usar a própria internet para desmistificar esse tipo de coisa. Ou seja, sempre começo as minhas pesquisas em sites de busca (Google, Yahoo, etc.), procuro também nas edições eletrônicas dos principais jornais e revistas. Caso não consiga a resposta correta, entro em contato, via e-mail, e por último, tento um contato telefônico. Mas na maioria das vezes, uma simples busca já me oferece resultado. É isso que todo mundo deveria fazer, antes de ficar repassando boatos e correntes.

Qual a pesquisa que foi mais trabalhosa?

As imagens, em geral, são as mais trabalhosas. Principalmente, quando não vêm com nenhuma informação adicional. Tem muita coisa que eu ainda não publiquei, pois, só coloco lá no site quando tenho certeza absoluta. Teve uma história de uns gigantes que foram encontrados durante uma escavação. (www.e-farsas.com/foto esqueleto_gigante.htm) Durante as minhas investigações, encontrei alguns sites sérios (americanos) afirmando que a história e as fotos eram reais. Mas, dias antes de publicar no site, descobri a farsa. Tratava-se de um concurso de Photoshpers) (especialistas em programas de edição de imagens), cujo tema era “gigantes”.

A mais emocionante?

Uma das mais legais foi a do cara que aparece em uma foto no topo de uma das torres do World Trade Center, no dia dos ataques terroristas aos EUA. Pesquisando, descobri que o cara era um brasileiro. Tempos depois, vim saber que o turista da foto era, na verdade, um búlgaro. O brasileiro, muito parecido com o búlgaro, espalhou para todo mundo que era ele o fotografado. O nosso patrício ficou tão famoso que chegou até a fazer comerciais na TV.
Como você faz para espalhar que determinado e-mail é fraude?
Quando eu publico uma nova pesquisa no site, mando e-mails avisando a todos que cadastraram na nossa lista de newsletter, também, àqueles que me mandaram a sugestão para a pesquisa.

Algum hacker já tentou destruir o seu site?

Destruir, não! Mas, duas vezes, alguns espertinhos se aproveitaram da enorme quantidade de visitas do site para anexar um popup para outros sites. Quando o visitante entrava no E-farsas.com, uma nova janela se abria, atraindo os desavisados para sites com conteúdo hacker. Felizmente, consegui resolver o problema com facilidade, trocando as senhas e mudando alguns parâmetros na segurança do site. Outro problema que é bom citar: tem gente se aproveitando da popularidade do site, registrando domínios com a grafia parecida com o E-farsas.com. Eles fazem isso, apostando que os usuários poderão entrar no site deles ao digitar o nosso endereço errado. Lembrando que o endereço correto do E-farsas é www.e-farsas.com (sem o “BR”).

Você recebe ameaças?

Com certeza! Só que a grande maioria é de gente afirmando que tal boato é real e que aconteceu com um conhecido dele. A mais brava foi a de uma empresa que divulgava a venda da folha de graviola em pó para a cura do câncer. Como eu havia desmentido no site que as folhas não curam essa doença, a empresa se sentiu prejudicada e pediu “educadamente” que retirássemos a pesquisa da web. A pesquisa continua lá www.e-farsas.com/corrente_graviola.htm).

Quais os golpes mais comuns na internet?

Antigamente, a alegria dos hackers era invadir sistemas e computadores para destruir dados. Hoje em dia, eles perceberam que é muito mais vantajoso invadir para roubar informações do que simplesmente destruí-las. Por isso, o ciber-criminoso usa de vários artifícios para enganar o usuário mais desatento, por exemplo: envia e-mail fingindo ser de alguma empresa séria e nele pede para que o destinatário atualize seus dados cadastrais, - avisa, via e-mail, que o nome do usuário está na lista do SPC e que, para deixar seu “nome limpo”, é preciso acessar uma página (que é falsa). E quem acessa a tal página, deixa a sua máquina aberta para possíveis invasões.

O que o usuário deve fazer para se proteger contra as armadilhas?

- Sempre deixar seu antivírus atualizado;

- Nunca, em hipótese nenhuma, dar a sua senha para ninguém;
É bom lembrar que nenhuma empresa solicita que você digite sua senha, via e-mail. Também não é legal deixar suas senhas anotadas no micro, procure armazená-las na sua própria cabeça.

- Ao receber um e-mail, verifique se você conhece o destinatário. Caso haja algum link no corpo do e-mail, apenas passe o mouse sobre o link e no rodapé. E veja se o endereço corresponde ao remetente. Exemplo: um banco deverá ter o link do banco;

- Na internet, vale a mesma dica que a mãe diz para o filhinho: “Não dê confiança a estranhos e desconfie quando a esmola é demais”.

Desses marketings virais que estão na internet, você já “derrubou” algum?

Já publiquei no site alguns vídeos que até eu mesmo jurava ser verdadeiro, mas depois de algumas pesquisas, pude perceber que se tratava de comerciais. Exemplos:
- Um disco voador sobrevoando os céus de Araraquara (interior de São Paulo). Na verdade, era um comercial de uma agência de publicidade, jogado na rede. Deu super certo, pois a agência teve uma enorme audiência no Youtube;






Olha só outra “armação” que o Gilmar derrubou



Este vídeo começou a circular pela internet desde abril de 2008 e, em pouco tempo, tomou conta da rede. O vídeo mostra dois seguranças deixando seus postos de trabalho e, ao sair do elevador, as câmeras mostram um fantasma - aparentemente de uma mulher - se "materializando" dentro da cabine.

Mas o vídeo é real?

Após algumas pesquisas, o Gilmar descobriu que o vídeo é falso!

O vídeo, na verdade, faz parte de uma campanha de marketing produzida pela agencia McCann Worldgroup de publicidade para a empresa de recrutamento GMP.

A campanha, que estreou em 21 de abril de 2008, tinha a seguinte intenção: ao contratar a empresa de recrutamento, seus funcionários não precisariam mais sair tão tarde do trabalho! A idéia foi tão boa que, só no Youtube - até a hoje - já teve mais de 463.000 visualizações!
Dias depois, Josh Goh - o gerente da GMP - lançou um vídeo onde ele explica as razões e o intuito do comercial:
Segundo Josh Goh, "a campanha queria ressaltar que ao trabalhar até mais tarde, o funcionário teria vários problemas como: fatiga, estresse... e se tiver muita falta de sorte, pode até se deparar com um fantasma!"

e

Mas se é falso, como o vídeo foi feito?
Procurando. no Youtube, Gilmar localizou o vídeo com a explicação de como foi feito esse comercial:

Conclusão:
O vídeo é parte de um comercial para uma agência de empregos!

E, como diria o Padre Quevedo, "fantasmas non equizisten"!

15 de jun. de 2009

No Ceará é assim...

CENA- 1A ILHA DA FANTASIA

Cerca de R$ 250 milhões do nosso dinheiro, do contribuinte, serão investidos no Oceanário Acquário Ceará. Será construído na Praia de Iracema, com a previsão de estar pronto até o final do ano que vem.O Governo do Estado produziu uma maquete visual belíssima, para promover a construção do dito Acquário.
Vejam a impressionante ficção.




No Ceará é assim

CENA - 2 FOME BRABA



Cenas cearenses estão nas telas dos principais cines do país. É o filme Garapa, de José Padilha, diretor de Tropa de Elite e Ônibus 174. Os cenários não são as praias belíssimas do litoral nem os personagens encenam a sensualidade da mulher nordestina, por exemplo. Não. Os atores são integrantes de três famílias: uma moradora em Fortaleza e as outras duas no Interior do Estado. Depois de uma exaustiva pesquisa, pelo Brasil, em busca de pessoas para filmar, o diretor encontrou aqui seus modelos. Segundo ele, os cearenses filmados, em seu documentário, representam mais de 900 milhões de pessoas em todo o mundo, que segundo a FAO, o órgão das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação, vivem naquilo chamado pelas autoridades como "insegurança alimentar grave". Fome braba mesma. E se alimentam de garapa: uma mistura caseira de água com açucar e que muitas famílias no mundo e também, no Brasil, dependem dessa mistura para sobreviver.


Maquiavel, um cabra safado

Os fins justificam os meios. É melhor ser impetuoso que tímido. O povo tem memória curta.

São algumas das máximas que correm o mundo, de Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe.

Maquiávelico ficou como sinônimo de pessoa de má-fé, de astuto.

Só que paralelo aos ensinamentos que Maquiavel oferecia aos governantes, como dicas de como administrar, conviver com amigos e inimigos, ele era um devasso, e tinha uma vida amorosa, fora da família, bem movimentada, sexualmente.

Às vezes, quebrava a cara.

Li, recentemente, na revista Piauí, uma matéria de autoria de Caio Túlio Costa, que apresenta uma carta em que, Maquiavel, conta a desventura que ter transado com uma mulher horrível de feia. "Sua boca parecia a de Lorenzo de Médici, mas era torta para um lado, e desse lado escorria uma baba porque não tendo nenhum dente, ela não podia conter a saliva..."

E nessa carta, ele descreve detalhes do ato.
Os momentos mais picantes do tal colóquio amoroso, descrito por Maquiavel:
“Eu cauteloso, que sou, senti-me bastaste amedrontado; porém, ficando a sós com a tal e no escuro (já que a velha saiu logo da casa, fechando a porta), para encurtar a história, sozinho com ela naquele breu, eu a fodi de só um golpe. Embora sentisse as suas coxas um pouco moles e a sua xoxota desanimada – e o seu hálito era um pouco fedido -, ainda assim, excitado como estava, fui aos finalmentes com ela”.

Segundo o autor do texto, "o relato é tão escalafobético que, alguns maquiavelistas levantam dúvida sobre sua veracidade. Roberto Ridolfi, autor da mais famosa biografia do florentino, afirma que é "provavelmente verdadeiro. E racionaliza: "A descrição dos detalhes é forçada demais para ser verossímel, demasiado realista para ser real".

14 de jun. de 2009



E o Maguila agora é cantor
Olhem aí, a cara do “novo intérprete”, na geleia geral do caldeirão da música: o ex-pugilista Maguila. O ex-boxeador lançará, em julho próximo, o CD Vida de Campeão, e traz como carro-chefe a música Dei um soco na preguiça, pra moleza não baixei a guarda.
Será muita luta, no ringue dos ouvidos de quem pensar em ouvir tal cantor.
E na publicidade do “disco”, ele usa uma boina, parecida com a que usava, o sambista Bezerra da Silva. Ainda bem que é só a boina...
Depois de ter saturado o saco dos telespectadores, em programas humorísticos, sempre sendo bobo da corte, Maguila, agora, parte para um novo ataque: ser cantor.
O que impressiona, no mundo midiático, é a desfaçatez, o descaramento e a cara-de-pau de muitas figuras carimbadas fazerem de um tudo para se manterem em evidência.
Apertem os ouvidos...

Os gatinhos do Parque do Cocó

O Parque do Cocó, pedaço verde de Fortaleza (embora cada vez mais despedaçado com a invasão imobiliária), é palco de grandes shows, concentrações religiosas, espaço para caminhantes em busca de vida saudável, ponto de táxi, banca de revistas...
E há algum tempo, viveiro de gatos.
Embora, sob o carinho de pessoas protetoras de animais, a existência dos felinos, naquele logradouro, provoca questionamentos.
Os gatos são vacinados regularmente? A saúde pública está preservada contra possíveis contágios de doenças? O Serviço de Vigilância Sanitária permite a criação indiscriminada de animais a céu aberto? A vizinhança é incomodada ou prejudicada por conta dos odores de fezes e de urina exalados pelos bichanos?
Caso, esses preceitos sejam cumpridos e a convivência com os vizinhos seja pacífica, até que pega bem
ver os gatinhos,
enfeitando a paisagem do Cocó.


Jessier Quirino



Massageando almas


“Vou-me embora pro passado

Pra não viver sufocado

Pra não morrer poluído

Pra não morar enjaulado

Lá não se vê violência

Nem droga nem tanto mau

Não se vê tanto barulho

Nem asfalto nem entulho

No passado é outro astral

Se eu tiver qualquer saudade

Escreverei pro presente

E quando eu estiver cansado

Da jornada, do batente

Terei uma cama Patente

Daquelas do selo azul

Num quarto calmo e seguro

Onde ali descansarei

Lá sou amigo do rei

Lá, tem muito mais futuro

Vou-me embora pro passado”

Trecho do poema Vou-me embora pro passado, de Jessier Quirino.



Ele se considera arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção, é paraibano de Campina Grande e filho adotivo de Itabaiana, onde reside há 20 anos. Animador e conversador das coisas do sertão, Jessier Quirino é dono de verve poética em que a inspiração, a espiritualidade se aconchegam à hilaridade de causos e vivências sertanejas. O poeta foi mais longe, quando rompeu as fronteiras de alma veneradoras do passado, concebendo o poema Vou-me embora passado.

E, foi entrevistado pela Singular:

Como surgiu Vou-me embora pro passado?

Eu sou meio saudosista. Às vezes, até penso que nasci na era errada. E sempre tive muito interesse por objeto de decoração e sempre olho isso, com um olhar muito muito terno.E em uma certa ocasião, vendo revistas, como O Cruzeiro e coleção da Coletânea que uma revista que papai me deu, vi aquelas propagandas, e fui para essa linha. E como gosto muito de fazer jogo de palavras e utilizar paráfrase, criei Secas de Março, em cima de Águas de Março, de Tom Jobim..E para juntar essas coisas do passado, me agarrei na poesia de Manuel Bandeira, Vou embora pra passárgada. Aí, peguei, e criei Vou-me embora pro passado. Foi um trabalho de pesquisa, folheando revistas, livros, coisas da minha época e de outros tempos antigos. E isso tem massageado a alma da muita gente por aí.