21 de mai. de 2009


A história original
do Pavão Misterioso


Quem pensou que a história do pavão misterioso saiu da cabeça do compositor cearense Ednardo, errou. Quando o enredo é lembrado, a recorrência, sempre é associada à peça musical, de título homônimo, encomendada pela TV Globo ao artista para a trilha sonora da novela de Dias Gomes, Saramandaia, sucesso televisivo, em meados do anos 70, do século passado. Ednardo foi buscar inspiração nos versos da dupla de cordelistas José Camelo e João Melchíades, para plumar o seu “Pavão”, “pássaro formoso/tudo é mistério neste seu voar...
Os versos do Romance do Pavão Misterioso, o original, apresentam a personagem feminina, a princesa Creuza, como representante da nobreza, muito em voga na sociedade feudal. Uma dama casta e frágil. O galã do cordel, João Evangelista, diante da impossibilidade de ter a princesa ao seu lado, pois o pai dela era muito ciumento e a deixava solitária, no alto do sobrado, mandou construir um aeroplano. Finalidade: transpor as muralhas do sobrado, e raptar Creuza.
À meia-noite o pavão
Do muro se levantou
Com as luzes apagadas
Como uma flecha voou
Bem no sobrado do conde
Na cumeeira aterrou.
Depois de várias tentativas para raptar a amada, finalmente Evangelista conseguiu seu intento. Em estrofes de sextilhas, os poetas “registram” a partida para a felicidade:
E a gaita do pavão
Tocando com rouca voz.
O monstro de olhos de fogo
Projetando seus faróis
O conde mandando praga,
Disse a moça: -É contra nós!
Os soldados da patrulha
Estavam de prontidão,
Disseram:-Vem ver, Fulano!
Lá vai passando o pavão!
O monstro fez uma curva
Para tomar direção...
Os noivos tomaram assento
No pavão de alumínio
E o monstro levantou-se
Foi ficando pequenino
Continuou o seu voo
No rumo do destino.


20 de mai. de 2009

GALERIA VIRTUAL
DAS ARTES PLÁSTICAS
CEARENSES

Este blog está inaugurando, hoje, a Galeria Virtual das Artes Plásticas Cearenses. Aqui, estarão expostos trabalhos de artistas que fazem parte da história pictórica do Ceará, independente de gêneros, fases, estilos ou época. Nesta vernissagem, apresento peças de Tarcísio Garcia, em sua mais recente fase.
Conheço há anos a obra do Tarcísio, principalmente a fase inicial: acuradíssimos desenhos em bico de pena davam textura a temas, os mais diversos. Naqueles anos 80, do século passado, a movimentação artística era efervescente, com exposições, salões, bienais, mostras coletivas, acontecendo todas as semanas. A obra dele sempre esteve no topo daquela geração de desenhistas que ficou na história das artes cearense.
Portanto, deleitem-se com os trabalhos de Tarcísio.
Por onde andei
Tarcísio Garcia

Sou do século passado. Já vi muita história. Ouvi a última transmissão da copa do mundo pelo rádio, quando não havia outra opção e assisti a primeira pela TV.
Vi surgir os Beatles, a Jovem Guarda e a Tropicália. E gosto muito das músicas de Luiz Gonzaga. Assisti a carreira completa de Pelé, Maradona e Airton Senna. Conheci a Coluna da Hora, escutei os sucessos do Pessoal do Ceará, à época do lançamento e acompanhei a construção de muitos monumentos que hoje fazem parte da arquitetura de Fortaleza.
Ainda menino, gostava de andar pela cidade para descobrir as coisas. Ia do Otávio Bonfim ao Centro, por uma rua, e voltava pela outra, passando pelo bairro de Jacarecanga. Caminhava até a casa do português, só para ver aquelas rampas esquisitas. Naquela época a Santos Dumont terminava no trilho: eu ia até lá, olhando tudo. Depois desenhava igrejas, automóveis, casarões. Guardei tanto esses desenhos em caixas e gavetas que até hoje, não sei onde botei. Virei artista plástico e como não poderia deixar de ser, meu trabalho traduz o que sou, a partir da convivência com minha principal fonte de referência: o Nordeste.
Já participei de vários salões e exposições, fiz individuais e fui agraciado com alguns prêmios, na categoria desenho. Fiz bicos de pena sobre lendas, assombrações, paisagens urbanas, santos e demônios.
Só que, as imagens dos casarões e dos monumentos sempre voltaram.
Nesta incursão que fiz na pintura, usando acrílica sobre tela, mostro uma coleção de edificações novas e antigas e monumentos. Registros de uma Fortaleza que aos poucos vai demolindo sua memória urbana, e erguendo em seu lugar condomínios fechados, shoppings, torres comerciais...




Tudo por dinheiro

Acontece, nesta quarta-feira, dia 20, a reunião do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo, para decidir se entra com uma ação cível contra o SBT, por expor a garota Maísa a algum tipo de constrangimento. Há dois domingos, a emissora exibe cenas em que a menina, seis anos, deixa o palco chorando, durante o quadro “Pergunte a Maísa”, no programa Silvio Santos.
Ora, ora, meus senhores, guardiões dos direitos da criança e do adolescente: somente agora, depois, que a menina passou por situações traumáticas, inclusive lesões corporais (bateu a cabeça, ao sair do palco, chorando), é que tal Conselho vai analisar o caso. Ela deveria ser impedida, isto sim, desde a sua primeira participação no programa, no ano passado, pois com essa idade, seis anos, não é permitido sequer trabalhar. Só a partir dos 14 anos.

SUCESSO PRECOCE

O que vem acontecendo com a pequena Maísa é recorrente a outros casos de crianças que precocemente chegaram ao estrelato e depois sumiram de cena. E o pior: algumas traumatizadas. O caso dela é muito mais grave, pois está acontecendo, no auge da carreira infantil. E as sequelas?
O exemplo mais distante é o de Jackie Coogan, que aos sete anos de idade co-estrelou, ao lado de Charles Chaplin, em 1921, o clássico do cinema mudo, “O Garoto”. Foi um dos astros mais bem pagos do cinema, chegando a faturar quatro milhões de dólares, antes da adolescência. Depois, caiu no ostracismo. Só voltou a sentir um pouco de fama, 43 anos depois, interpretando o personagem Tio Funéreo, no filme “A “Família Addams”. Faleceu em 1984.
Pablo Calvo Hidalgo, o Pablito Calvo, aos oito anos, tornou-se uma das figuras mais importantes do cinema espanhol, quando, em 1954, interpretou o personagem principal, no filme “Marcelino – Pão e Vinho”. A obra fez sucesso até a década de 70. Depois, Pablito ainda atuou em outros dois filmes, porém sem o mesmo destaque. Abandonou a profissão. Morreu, em 2002, como engenheiro industrial.
No Brasil, o exemplo mais trágico é o do ator Fernando Ramos da Silva que interpretou, aos 12 anos de idade, o personagem-título, do filme “Pixote – A lei do mais fraco” (1981), considerado, à época, um dos dez melhores filmes do ano.
Depois, passou a viver da fama que o personagem lhe proporcionou. Tentou, mais tarde, a carreira, no Rio de Janeiro, entretanto semi-analfabeto e despreparado, participou apenas de dois filmes, fazendo ponta. Na televisão, também não teve êxito.
Desencantado com a vida artística, Fernando voltou a conviver com os companheiros de miséria e de criminalidade, passando a roubar casas e carros. O ex- ator e mais dois dos seus irmãos foram mortos por policiais, em 1987.

19 de mai. de 2009



Os Flintstones são
eróticos pra caramba

Quem imaginava que aqueles personagens de histórias em quadrinhos, ingênuos e ambientados na idade da pedra, praticassem tantas orgias e sacanagens entre eles. Pois não é que, estão fazendo na Net. As estripulias sexuais dos safadinhos e safadinhas dos Flintstones estão zuando, provocando desejos libidinosos nos internautas. A reinvenção erótica dos personagens de Hanna-Barbera pode ser vista no site http://www.seiren.com.br/.
O jornalista Pepo Melo entrevistou para a Singular, edição de junho/2005, o autor do site, o desenhista Eronildo Luiz da Silva, o Nill. Fred, Wilma, Barney, Betty e até o cangurussauro Hoppy fazem danações eróticas, as mais cabeludas.
Trechos da entrevista:

A sátira com personagens de quadrinhos dos Flintstones é antológica. Como você pensou nisso?
Os Flintstones aconteceram muito por acaso, sem pretensão. Eu tinha visto alguns cartuns eróticos sobre eles, na internet, e pensei: puxa, bem que eu podia fazer um também. Então, comecei a rascunhar direto, sem roteiro prévio, como, geralmente faço.

Os Flintstones estão no imaginário das crianças que crescem. Adolescentes começam a “notar” os microvestidos da Beth e da Vilma...De repente, aquelas ex-crianças veem uma orgia com os tais personagens que tinham ficado no passado. A preservação dos trejeitos dos personagens originais ajudou no sucesso das histórias montadas por você?


Totalmente. Aliás, isso é algo extremamente importante. Eu só faço histórias sobre personagens que conheço, que gosto. Eu assistia muito aos Flintstones, por isso, na hora de criar a minha versão erótica sobre eles, ficou fácil de mostrá-los. Bastante fiel.

A arrogância do padrão Globo

O jornalista Ricardo Noblat costuma dizer que os jornalistas se destacam pela arrogância. “E que nos irritamos com facilidade quando discordam do que dizemos ou escrevemos”. Incluo, aí no rol, a figura do radialista. Um exemplo lapidado da mais pura arrogância e soberba, foi o que ouvi, numa recente entrevista (se, por ventura, aquilo possa ser qualificado como entrevista) do deputado federal Sérgio – “estou é me lixando para a opinião pública” - Moraes ao comunicador Roberto Canazio, da Rádio Globo.
No início da conversa, via telefone, o radialista foi, logo, se posicionando de que era a favor do afastamento do parlamentar da função de relator, no Conselho de Ética da Câmara (caso: processo contra o colega dele, o deputado Edmar Moreira, que ganhou notoriedade por possuir um castelo de R$ 25 milhões, registrado em nome dos filhos).

Ora, nenhum Manual de Redação classifica aquele destempero como entrevista ou a condição de “abrir espaço para a pessoa contar a sua versão”. Depois de muitos sacolejos verbais, como se fosse o dono da verdade, Canazio, finalmente, permitiu que o parlamentar iniciasse sua participação no programa.
E o que se ouviu, a partir daí, foi um diálogo ríspido, recheado de acusações, entre ambos. Muito longe, longe do feijão com arroz, praticado no jornalismo.
É evidente que a mídia está pegando no pé do cara, pela asneira que disse (a expressão vai juntar-se a outras grosserias semelhantes, como: “Estupra, mas não mata”- Paulo Maluf; “Relaxa e goza”- Marta Suplicy). Todavia, a execração pública que o parlamentar está sofrendo não confere ao radialista o direito de promover andamentos de processos. E, muito menos, o de praticar ações de competência da Justiça.
Numa entrevista, o papel do repórter é de perguntador, e só. Caso queira dar o seu parecer, que opine, em outro momento. Nunca no contexto de um encontro com outra pessoa para elucidar e obter certos esclarecimentos.

Confiram o áudio:

+ áudio

18 de mai. de 2009





O que une Lênin a Roberto Carlos?

Vladimir Lênin, o líder da Revolução Russa (1917), se levantaria do túmulo e sairia pela Praça Vermelha, protestando contra o uso de uma de suas expressões utilizada, no Brasil, como inspiração para uma típica operação capitalista.
O que aconteceu foi o seguinte: o publicitário Carlito Maia estava em dificuldade criativa para nominar um programa que a TV Record ia lançar, em 1965, e que refletisse a vibração e o entusiasmo daquela turma de artistas, comandada por Roberto Carlos. Maia nem precisou queimar as pestanas.
Foi beber na fonte do pensamento do ideólogo russo, Vladimir Lênin, que certa vez tinha escrito: “O futuro do socialismo repousa nos ombros da Jovem Guarda”. A “chupada” da expressão Jovem Guarda se encaixou direitinho, tanto no programa, como batizando uma nova tendência na Música Popular Brasileira.
A marca Jovem Guarda azeitou também as vendas de bonecos, sandálias, sabonetes, sapatos, cuecas, calções, biquínis e outras quinquilharias.
Carlito Maia, já falecido, além de ser considerado um dos melhores publicitários brasileiros, e dos bons (“No Brasil? Fraude explica”). Maia foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, e são de sua autoria os slongans”Lulá-lá” e “oPTtei”. Homem de oposição, certa vez declarou que deixaria o partido, quando o PT chegasse ao poder.

17 de mai. de 2009





















Fortaleza Ontem e Hoje


À época em que fui editor do 2º Caderno do jornal O Povo, eu editava, todos os domingos, a página do meu amigo Nirez sobre variedades (música, comportamento, fatos históricos etc) de outrora. Algo importante para a preservação da memória, muitas vezes esquecida. E tinha uma seção que eu adorava: Fortaleza Ontem e Hoje.
E cá estou, copiando a idéia do Miguel Ângelo de Azevedo, que é o mesmo cidadão.
A foto (Arquivo Nirez - Foto Sales) à esquerda, registra o cruzamento entre as ruas Guilherme Rocha e Floriano Peixoto). Ano: 1936.

A outra, do mesmo ângulo, é recente.

A solidão do baobá

A sua copa, além de sentir as carícias do vento, certamente já ouviu gritos de dor, sussurros amorosos, de milhões de vozes que por perto dela passaram. Impávido, você, velho baobá, vem assistindo, e sentindo na pele, com certeza, os males provocados pelas transformações ambientais impostas à cidade que o acolheu.
Nativo de terra além-mar, você chegou por aqui, há 139 anos, trazido da África, pelo senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil. Sei também que tens vida longa, podendo viver de três a seis mil anos. Existe uma lenda de que, antigamente, os poetas e guerreiros eram sepultados nas entranhas do seu imenso tronco. A sua altura pode chegar até 30 metros e a raiz central atinge até 40 metros de profundidade.
Embora, hoje em dia, despercebido pela maioria dos fortalezenses (Ah! Como você deve se balançar de saudade quando reinava sobre os plebeus e a sociedade chique, frequentadores das tardes de antanho, no aprazível Passeio Público).
Esquenta não, querido baobá. Aliás, recordo gentileza de sua parte, lá pela década de 70, do século passado, permitindo que outros artistas plásticos e eu utilizássemos o seu imenso tronco pra exposições de telas. Obrigado.
Penso que chato mesmo para você é o manto de solidão que você sente, hoje, no Passeio Público. O logradouro foi reformado e ficou mais bonito, todo iluminado. Porém, aquele aconchego das meretrizes e amantes, no cotidiano do amor, foi proibido pelas autoridades. As meninas que amiudavam seus encantos, de soslaio, nas aventuras amorosas, ficaram órfãs do seu abrigo e da sua fama de cupido.

Mulheres paneleiras

Geraldo Jesuíno, artista cearense do melhor naipe, criou para a Singular, uma série de desenhos sobre o tema Mulheres/Caetanas/Panelas. O artista retrata mulheres negras, paneleiras, pertencentes à família Caetana e residentes, no Bairro Barroso, em Fortaleza. O desenhista usou a técnica que aplica nankim, diluído em bico de pena sobre papel cansou. E eu fiz as legendas.

















I – O BARRO
Suas vistosas melenas acompanham o movimento
das mãos ágeis, tecendo o barro.


















II – A ARTE
Elas trazem o semblante marcado pelo sofrimento,
curtido nos infortúnios da vida e a sensibilidade esmerada no cotidiano da labuta.
















III- A FEIRA
Altivas. Elas cobrem a alma com o corpo negro,
fino, em desalinho. Belo.
As Caetanas são sensuais na vitrine.